De coleirinha ortopédica
Renato Kaufmann
O médico tinha dito pra ela ficar uma semana sem ir pra escola, pra evitar novos impactos. Quinta à noite e ela já estava engatinhando no chão e pulando no sofá, toda sapeca. Incrível esse fator de cura das crianças. Físicos ou emocionais, a maioria dos machucados sara a olhos vistos.
Não tive dúvidas: vai pra escola sim. E sexta de manhã lá estava ela, de uniforme e coleira ortopédica, com uma flor que a gente desenhou no dia anterior. Foi toda feliz, com o ibuprofeno à tiracolo em uma bolsinha de coruja,. Ela se sente mais responsável levando o próprio remédio.
Chegando na escola, aquilo parecia uma corrida de caminhoneiros bêbados, criança correndo pra todo lado. Pronto, vão atropelar ela de novo. Me deu um frio na barriga. Um golpe duro na minha certeza paterna, mas afinal, certeza é um luxo. Vida de pai.