“Ser pai é calejar o coração dos filhos”
Renato Kaufmann
Faz pouco tempo, fui convidado pra dar uma palestra. Eu não sou muito bom de falar em público, fico nervoso. Isso só piorou, porque, antes da minha, foi a do José Ruy Gandra. O cara é uma alma iluminada, um poço de sabedoria e tem uma história de dar nó na garganta.
Ele perdeu um filho. Eu não consigo nem imaginar como seja essa dor, e só de pensar nisso tenho vontade de chorar. Apesar de tudo, ele sai da cama todos os dias e encara a vida de frente, talvez também por ter outro filho e um neto, e ambos precisarem da sua figura. Mas perder um filho e continuar a viver me parece exigir uma força sobre-humana.
Então, quando uma pessoa como o Gandra fala, eu escuto com ouvidos atentos. E de tudo que ele falou na palestra, uma frase ficou na minha cabeça: “Ser pai é calejar o coração dos filhos”.
Nosso impulso é acolchoar as crianças de todas as coisas difíceis do mundo. Isso parece proteção, mas não é. Sim, o mundo é duro. Mas um dos maiores presentes que podemos dar a um serzinho humano é estimular a sua autonomia, deixar que ele aprenda a encarar e lidar com agruras e frustrações.
Um dia não estaremos mais aqui pra ajudá-los e protegê-los. Seus corações macios estarão à mercê da vida. Talvez ajude se esse coração já vier meio que calejado mesmo. Talvez seja mais importante passar, junto com eles, por essas situações que poupá-los.
Eu ainda não sou tão iluminado. Mas a gente já treina com situações menos graves, como um tombo. A lição é a mesma “Caiu, levanta”. Uma lição que o Gandra nos ensina com o seu próprio exemplo.