Vida de Pai

“Ser pai é calejar o coração dos filhos”

Renato Kaufmann

Caiu, Levanta

Ilustração: Eduardo Souzacampus

Faz pouco tempo, fui convidado pra dar uma palestra. Eu não sou muito bom de falar em público, fico nervoso. Isso só piorou, porque, antes da minha, foi a do José Ruy Gandra. O cara é uma alma iluminada, um poço de sabedoria e tem uma história de dar nó na garganta.

Ele perdeu um filho. Eu não consigo nem imaginar como seja essa dor, e só de pensar nisso tenho vontade de chorar. Apesar de tudo, ele sai da cama todos os dias e encara a vida de frente, talvez também por ter outro filho e um neto, e ambos precisarem da sua figura. Mas perder um filho e continuar a viver me parece exigir uma força sobre-humana.

Então, quando uma pessoa como o Gandra fala, eu escuto com ouvidos atentos. E de tudo que ele falou na palestra, uma frase ficou na minha cabeça: “Ser pai é calejar o coração dos filhos”.

Nosso impulso é acolchoar as crianças de todas as coisas difíceis do mundo. Isso parece proteção, mas não é. Sim, o mundo é duro. Mas um dos maiores presentes que podemos dar a um serzinho humano é estimular a sua autonomia, deixar que ele aprenda a encarar e lidar com agruras e frustrações.

Um dia não estaremos mais aqui pra ajudá-los e protegê-los. Seus corações macios estarão à mercê da vida. Talvez ajude se esse coração já vier meio que calejado mesmo. Talvez seja mais importante passar, junto com eles, por essas situações que poupá-los.

Eu ainda não sou tão iluminado. Mas a gente já treina com situações menos graves, como um tombo. A lição é a mesma “Caiu, levanta”. Uma lição que o Gandra nos ensina com o seu próprio exemplo.