É mentira que brinquedo não tem idade
Renato Kaufmann
Todo mundo que já pisou descalço em uma pecinha de Lego, no meio da madrugada, sabe como é importante ensinar a criança a arrumar os seus brinquedos. Afinal, tão divertido quanto construir uma cidade é virar o Godzilla e destruir tudo. Arrumar, nem tanto. Por isso que, em filmes e desenhos de heróis, a gente nunca vê a equipe de limpeza.
Os pais podem tentar transformar a arrumação em uma atividade divertida, mas criança não é trouxa, ela logo percebe que algo está fora de lugar, e não são os malditos brinquedos compostos por centenas de pecinhas: “que canalha, você está tentando me educar, eu sei!”
Aí, comprei aquele jogo dos anos 80, o Genius, para a Lucia. A embalagem dizia a partir de 6 anos, mas é só memorizar e repetir sequências, e achei que ela ia se divertir. Depois da quarta tentativa, ela começou a se sentir frustrada. Experimentou apertar todos os botões. Brincou com as pilhas. Com as pilhas, vejam bem. Depois, a brincadeira era “vamos esconder o brinquedo e o outro precisa procurar, tááááá pai?”. E, finalmente, usou o negócio como um disco voador para o seu urso de pelúcia.
É, tem uma certa arrogância paterna em desconsiderar a idade sugerida do brinquedo. Lição aprendida. Aliás, imagino que a tal idade deveria ser 40 anos ou mais, porque já passei uma madrugada com esse negócio e não consegui terminar nenhuma sequência até o fim. Pelo menos, é fácil de guardar.