Quem programa seus filhos?
Renato Kaufmann
Vamos dominar a tecnologia ou vamos ser dirigidos por quem a domina? Hoje em dia, tem cada vez menos gente que acredita em tudo que vê na TV. Só que quando o assunto é tecnologia, ainda acham que ela é neutra.
As pessoas se esquecem que existe todo um conjunto de valores embutidos em qualquer programa de computador. Quando a gente introduz tecnologia na vida das crianças, lembrar disso é mais importante que nunca. Ao usar um software, você está sendo impactado pelos valores e pela visão de mundo de quem o criou.
Lembram daquele jogo “Sim City”? Todo mundo acha que ele é simulador de cidades, da mesma forma que Flight Simulator é um simulador de avião. Na verdade, o jogo é a expressão dos valores e da visão de mundo dos seus criadores. Por exemplo, se você aumenta os impostos, as pessoas se revoltam. Mas não é assim em todo lugar – como nos países nórdicos, em que os impostos são altíssimos, mas o padrão dos serviços do estado, e a qualidade de vida, também.
No começo da era da computação, todo mundo que usasse um computador estava programando. A ferramenta estava aberta. Com o avanço dos computadores pessoais, e agora, com smartphones e tablets, estamos virando apenas consumidores de tecnologia pronta. Por exemplo, nós passamos a ver certas redes sociais como uma forma de nos conectarmos com amigos, e esquecemos que elas são feitas por empresas, com intuito de monetizar nossas conexões com amigos.
A tecnologia vai continuar mudando radicalmente nossa sociedade. E quem vai dirigir essas mudanças?
Douglas Rushkoff escreveu em seu livro, “Programe ou seja programado”, que ou nós escolhemos dirigir a tecnologia, ou vamos ser dirigidos por aqueles que a dominam. “Escolha a primeira opção”, ele diz, “e você tem acesso ao ‘painel de controle’ da civilização. Escolha a segunda, e essa pode ser a última escolha de verdade que você faz.”
Não que todo mundo deva ser um programador, longe disso, mas é muito importante entender que existe uma programação, treinar um olhar crítico, saber que em cada programa existem escolhas entre vários caminhos possíveis. Olhar para a tecnologia e pensar que isso “é o que tem” é como olhar para o noticiário e achar que aquelas são necessariamente as notícias mais importantes, quando, na verdade, aquela é a escolha das notícias que um grupo de pessoas julgou mais importante.
Pensando nisso, separei três dicas para crianças e adultos:
1) Cargo Bot
Um jogo em que você precisa programar um braço-robô e resolver uma série de desafios. Excelente para aprender princípios básicos de lógica e programação. As fases iniciais são acessíveis para crianças, já que começa fácil e vai ficando realmente desafiador. Eu atolei no intermediário e estou prestes a arremessar o iPad pela janela, voltar para o mato e viver numa caverna. Ao menos já entendi porque programador bebe tanto café – é um desafio intelectual viciante.
2) Tiny tap
Um aplicativo muito simples que permite que você crie os seus próprios jogos infantis no iPad. Eu fiz um pra Lucia, usando fotos nossas, e gravando a minha voz nas perguntas e nas respostas, certas e erradas. Mostrei e ela se divertiu muito. Pediu mais. Agora quero fazer um jogo mais complexo, afinal, ela está mais esperta a cada dia e “onde está o nariz” ficou fácil demais. Ou vou ensinar ela a fazer seu próprio joguinho.
3) Programe ou seja programado – por Douglas Rushkoff
Infelizmente, esse livro só tem em inglês, mas vale a leitura. O Rushkoff, que foi meu professor no mestrado e é um cara bem polêmico, mostra como entender a tecnologia pode transformar a sociedade, para muito além de clicadas em curtir e atualizações de status.