Vida de Pai

Ataques de manha

Renato Kaufmann

uahhhhhhh

Ilustração: Eduardo Souzacampus

A Lucinha entrou na fase de testar limites, e um deles é até onde consegue ganhar as coisas no grito. No começo, eu fiz tudo que não deveria fazer: argumentar extensivamente, negociar, dar colo, ficar bravo ou, o pior de todos, ceder: “então tá”.

Aí, a pequena bolinha repete um mantra como quem reza infinitas ave-marias. “Eu quero danoninhooooooo”, “Eu quero danoninhooooooo”. Mais um pouco e quem vai ter que aprender a rezar sou eu.

Perguntei para uma prima psicóloga, a Juliana: o que eu faço? Ela disse para descer até a altura da criança, explicar que só vou conversar quando ela se acalmar, dar as costas e sair andando.

Fiz isso, com dificuldade, e a Lucia começou a berrar. Em dois minutos, veio pedir desculpas por estar fazendo manha. Sucesso.

Mas e para evitar a manha? A dica da Isabel Garcia, psicóloga infantil, é preparar a criança para as mudanças do dia, e dar tempo dela ir se preparando. Em vez de interromper uma brincadeira, avisar antes “a gente vai brincar mais um pouco, depois banho e jantar, tá?”

As pestinhas aprendem a ter vontade própria e querem praticar. Aí no jantar ela começou: “Eu não gosto de peixeeeeee”. Nem tinha experimentado ainda.

Eu disse que era o que tinha. Deu escândalo, se jogou no chão, esperneou. Levei-a para o quarto, para se acalmar e pensar. Acabou dormindo sem jantar, pobrecita.

Nossa, a gente se sente um mau pai. Só que aprender a ter limites é mais importante do que uma refeição. Se não, pode virar uma criança tirânica, uma adolescente prepotente e aí já viu.

Nessas horas, o pai precisa ir contra ao seu próprio instinto. Ensinar limites é difícil pra caramba, mas é um ato de amor. A única outra alternativa é se jogar no chão e chorar junto. Eu já fiz isso e, olha, não funcionou.