Segundas, penitenciárias e pontes
Renato Kaufmann
Existem pessoas que amam as segundas-feiras, começo de semana, aquela chance de colocar em prática as resoluções – ou compensações – do fim de semana, começar dietas e afins. Já eu me encontro no mesmo time de um certo gato laranja que não é tão fã da data, pra dizer o mínimo.
Janeiro é como se fosse a segunda-feira do ano – hora de colocar em prática todas aquelas resoluções de ano novo, e, claro, falhar miseravelmente nisso. Por essas e outras, a minha resolução para os inícios de calendário tem sido a de não fazer resolução alguma. Afinal, nada como um bom paradoxo pra começar o ano.
Até porque o mais importante já está resolvido, que é a vida com a minha filhota. Eu fico metade do tempo com ela, faço questão, e morro de saudades quando a pequena está longe. Mas para aumentar esse tempo juntos, só se eu desse sumiço na mãe dela, o que seria péssimo, em especial se eu fosse descoberto. Aposto que ninguém iria me visitar na cadeia.
Ou largar o emprego. Trabalhar menos seria ótimo, mas escola de criança e uísque não se pagam sozinhos, e no fim, a gente faz o que tem que fazer. Aposto que não iriam me visitar embaixo da ponte.
Restam aquelas coisas como “fazer exercício” e “se alimentar melhor”, coisas que ajudam a ter uma vida mais longa. E claro que eu quero uma vida longuíssima, ver a Lucia crescer e escrever um trabalho que além de curar o câncer, vai ganhar um Nobel de literatura, mas, a essas alturas do campeonato, entrego minha longevidade para os avanços da medicina, e é bom inventarem um milagre o quanto antes.
Aí, só sobra uma coisa: parar de falar mal das segundas-feiras. E, como com qualquer resolução desse tipo, na outra segunda, eu começo.