Vida de Pai

Arquivo : janeiro 2013

Pé na estrada
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Renato Kaufmann

ilustração: Eduardo Souzacampus

Santo de casa não faz milagre. Aliás, nenhum outro também, mas é preciso certa condescendência com os ditos populares.

Então, eu já tenho alguma experiência como pai: quatro anos de prática, blog, coluna, livro e muito papo com outros pais e mães. Até me convidaram pra ser o especialista em uma série, selecionando os conselhos mais úteis para resolver problemas que envolvem crianças e carros. Crianças dentro de carros, não embaixo, claro.

Com tudo isso, qual foi a minha surpresa (nenhuma), na hora em que a Lucia começou a vomitar, que eu não tivesse nada – papel toalha, lenço umedecido, garrafa com água… Nem estopa de posto de gasolina tinha. Da mesma forma, não teve onde parar o carro, e ela continuou, digamos, pondo as suas mazelas pra fora durante mais um trecho do caminho.

Como cabe tanta coisa dentro de uma criança? Elas são ocas, um grande estômago em forma de piveta? Elas tem um portal intradimensional que vai direto pra vomitolândia?

Consegui parar o carro. Achei uma loja de churrasco. Perguntei se tinha banheiro. O sujeito diz que sim, mas que o lavatório estava mais sujo que a pequena, melhor não usar. Ele me vendeu dois pacotes de guardanapo, daquele pequeno, que em vez de absorver, espalha tudo.

Quando eu tiro a roupa vomitada, ela fica com frio. Limpo o mais depressa que consigo, mas teria sido mais rápido fazer ela rolar na grama. Pra não precisar abrir o porta-malas, dou minha camiseta pra ela usar, fica um lindo vestido, estampado com uma coruja mecânica sendo pilotada por um rato de cartola.

Aí, dou remédio de enjoo pra pequenita. Sim, eu tinha remédio. Não, eu não tinha dado, só dei na ida, não pra um passeio normal. Ah, e a cadeirinha nova que eu comprei… céus, tinha vômito até dentro nas engrenagens do cinto, o que me levou a colocar quase tudo na lavadora. Aliás, aviso aos navegantes – não lavar partes mecânicas na máquina de lavar roupas.

Na hora de tirar o cheiro ruim do carro, outra lição, não usar desinfetante de eucalipto. É como aquela história da ilha infestada por ratos, aí você traz uma praga de gatos pra resolver o problema, e após cachorros, tigres e afins, quando percebe, sua ilha tem uma praga de elefantes.

Elefante é um bom meio de transporte, me pergunto se a Lulu iria enjoar nele também.


Mau tio, mau
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Renato Kaufmann

Quando minha irmã comprou um filhote de cachorro, há uns dez anos, ela não teve coragem de sair e deixar o pequeno comigo.

Anos de cuidado com a Lucia e acho que consegui reverter essa imagem que ela tinha.

Aí fomos na loja, meu sobrinho comigo, seis anos, “quero ir na carro da tio renato”. Eu precisava de uma cadeirinha nova. Na hora de testar como ficava no carro, eu deixei ele no fundo da loja, vendo televisão tranquilamente, e fui testar a cadeirinha.

Pouquíssimos minutos depois minha irmã sai da loja, digamos, nada feliz, porque o menino estava chorando lá dentro, achando que foi abandonado, e já estava dando pra vendedora o telefone da casa dele em Miami. Em inglês.

Mil justificativas – foi rapidinho, ele parecia entretido, a única saída da loja era onde eu estava… mas não teve jeito. Vendo a cara dela – e a dele, eu sei que eu errei. Mea culpa.

Pelo menos eu não esqueci ele na loja e fui embora, mas acho que perdi os privilégios pra passear até com o cachorro.


Educação vem de… ah, sei lá
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Renato Kaufmann

A lucia estava com a boca no prato, usando a colher pra empurrar pra dentro da boca o macarrão cortadinho. Dei uma bronca dizendo pra ela comer direito,  que quem come assim é cachorro e que filha minha não faz assim, onde já se viu.

Lembrei na hora daquele robô detector de mentiras:
“-Filho, pra onde você foi depois do almoço?
-Pra casa do Zequinha, ver filme.
-E o que vocês viram?
-Errrr… Filmes educativos.
(O robô dá um tabefe no menino.)
-Pornografia! A gente foi ver pornografia!
-Que feio filho. Na sua idade eu não fazia essas coisas.
(O robô dá um tabefe no pai.)
-Hahahaha, só podia ser seu filho, diz a mãe.
(O robô dá um tabefe na mãe.)

Lembrei à toa, claro.