Ora direis, ouvir estrelas
Renato Kaufmann
Antes de ter a Lucia, eu tive uma experiência com gatos: não importa quão legal é o que vem dentro, eles preferem brincar com a caixa.
Aí, comprei dois presentes de aniversário pra Lucia. Um é uma cama nova, que ela estava pedindo faz tempo. Não é barato, mas ficou linda. Ela gostou, sentou nela e disse: “ah, obrigado”.
O outro é um pacote de estrelas que brilham no escuro, que vem com guias para criar dez constelações realísticas. Grudei elas no teto, ao custo de algumas moedas e uma grande dor no pescoço.
Quando a Lucia veio da escola, disse pra fechar os olhos e apaguei a luz. Então, ela abriu os olhinhos e disse :“Uau! Uau! Uau!” Mostrei quais eram as constelações – “esta é a Ursa maior, este é Órion, o caçador, esta é Libra, seu signo” e ela dava saltinhos. Depois saiu correndo pra chamar as pessoas “Vem ver o que eu tenho no meu quarto! Mas tem que ser no escuro. De dia, elas somem!”
Aí só resta citar Bilac mais uma vez:
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!'' E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…”