Vida de Pai

Ano novo

Renato Kaufmann

Ilustração: Eduardo Souzacampus

A julgar pelos fogos de artifício acordando bebês, gatos e cachorros, está chegando o novo ano, ou algum time ganhou alguma coisa, ou pegou fogo em uma fábrica de pipoca, ou as pessoas que odeiam gatos, cachorros e bebês tiveram um ótimo 13o  este ano.

Eu gosto de fogo. Apanhei de monte quando criança por quase botar fogo na casa e em várias outras coisas – acidentalmente, claro. Eu jogava álcool na pia e punha fogo, era divertido ver as chamas descendo pelo ralo. Eu deixei uma vela acesa dentro do armário. Enfim, a lista é longa e eu era um piromaníaco mirim, quase. Sorte que nunca deu em tragédia.

E eu gosto de fogos de artifício. Acho fascinante como o fogo muda de cor, dependendo do que os engenheiros químicos acrescentam nele. Agora, tem uns que não tem cor e só fazem barulho. Um eufemismo isso, já que, na prática, eles parecem com a Terceira Guerra Mundial. Servem, basicamente, pra incomodar os outros.

Da última vez, os rojões acordaram a Lucia, apavoraram os gatos e eu levei horas pra desgrudar um deles do teto e arrancar o outro de dentro do estofamento do sofá. Os bichinhos tremiam de medo.

Este ano, estou pensando em outra estratégia, vou encher a cara de champanhe. Quero ver o gato acertar o teto com a sala toda girando.