Vida de Pai

No estranho mundo da alimentação infantil

Renato Kaufmann

Ilustração: Eduardo Souzacampus

Do cordão umbilical ao bife, a alimentação de uma criança passa por mudanças incríveis. No princípio era o umbigo. O pequeno feto está conectado ao Alien, o oitavo passageiro. Digo, conectado à placenta, que quer pular no seu rosto. Eu sei. Ou ainda, o feto é que é o alien. Se algum disco voador estiver lendo, esquece que eu disse isso. Apesar de assustadora na aparência, a placenta é a lanchonete do bebê, extraindo nutrientes da mãe e enviando à criança.

Como uma forma de treino, a criança engole líquido amniótico. E expele líquido amniótico. Esse ciclo é repetido tantas vezes que ele vai acumulando células, que se transformam no primeiro cocô, tecnicamente chamado de mecônio, uma graxa verde que tem nome de um robô que poderia destruir Tóquio.

Depois de nascer, ela é introduzida ao maravilhoso universo dos peitos, criando uma fixação por coisas redondas que nunca mais passa. Mas, nas primeiras mamadas, ela não ganha leite e sim uma substância chamada colostro. Nome digno de uma terrível organização mafiosa. Eu queria, na minha próxima encarnação, ser a pessoa que inventa esses nomes.

Para o pai, a amamentação é uma competição desigual, mas ao menos nós sabemos que, quando a criança sorri pra gente, é totalmente desprovido de interesses lácteos. Quando chegou a fase da mamadeira foi uma grande transformação, pra mim e pra Lucia. Eu adorava pegar no colo e dar leite. Ela ficava olhando nos meus olhos. Era um momento muito bonito e ajudou muito a reforçar o nosso vínculo.

A amamentação é uma das coisas mais importantes do mundo e é fundamental na construção do sistema imunológico. A Lucinha decidiu, sozinha, parar de mamar no peito, mais ou menos com um ano de idade. Como a decisão veio dela, foi mais fácil e não entramos no polêmico assunto de até quando a criança deve mamar no peito*.

De um lado, tem mães que decidem parar cedo e até tomam hormônios para secar o leite. Do outro, tem mães que acham que devem amamentar os filhos até a criança tirar carta de motorista e conseguir dirigir sozinha até a padaria para comprar leite.

*A American Academy of Pediatrics recomenda que, no mínimo, o bebê tome leite do peito, exclusivamente, até os seis meses de idade, e após a introdução de outros alimentos, continue sendo amamentado até pelo menos um ano.